A polêmica sobre a mudança de identidade do Brasília

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Fevereiro de 2013. Em uma viagem a Caldas Novas descobri uma loja em um Shopping da cidade que vende vários produtos para torcedores de futebol, com escudos de vários (mas são VÁRIOS mesmo) times do Brasil afora. Dos times do DF haviam canecas, copos, relógios e enfeites de Gama, Ceilândia e Sobradinho entre outros. Minha esposa que é torcedora do Brasília perguntou se havia produtos do Colorado, o que foi negado pelo dono da loja que alegou que o clube “mudava demais de escudo” o que faria com que os produtos se perdessem.

Naquela época o time do Avião havia acabado de voltar da segunda divisão e havia passado pela oitava mudança de escudo desde que foi fundado em 1975. Cercado de incertezas sobre como seria seu futuro na elite distrital acabou por ser vice-campeão candango naquela edição e nas duas seguintes. Além disso ganhou duas vezes o torneio de juniores, fez uma boa campanha na Copa São Paulo e, o ápice, conquistou a primeira edição da Copa Verde, se credenciando para ser o primeiro clube do DF a disputar uma competição internacional oficial – a Copa Sul-Americana.

BrasíliaTodas estas conquistas vieram com os jogadores utilizando este escudo, que acabou, mesmo num curto espaço de tempo, se tornando conhecido nacionalmente – principalmente por conta da façanha de conquistar a Copa Verde quando todos esperavam que a dupla Re-Pa (Remo e Paysandu) ganharia facilmente qualquer edição. E a expectativa de que o Brasília voltasse a dominar não só o cenário local, mas começasse a crescer e voltasse a disputar torneios nacionais com frequência como em seus tempos áureos fez com que muitos apaixonados por futebol começassem a se organizar para acompanhar e torcer pelo Colorado, com isso assimilando para si todos os signos que o representavam.

O grande marco no qual todos miravam era a partida da Sul-Americana, mesmo sem saber sequer quem enfrentariam, no qual todos iriam se mostrar para toda a América do Sul. Mas aí…

Na última sexta-feira, faltando quatro dias para o grande momento, a diretoria que assumiu o clube após o último Candangão anunciou mudanças no escudo, nas cores, no uniforme e até no mascote. A cor azul seria adicionada, fazendo o clube deixar de ser o “Colorado” e o transformando em “Tricolor” ou “Rubro-anil” a depender da interpretação de cada um. O mascote deixaria de ser o avião e passaria a ser a Águia, animal escolhido após uma análise interna considerar que o mesmo cativaria o público infantil e que simbolizaria uma nova fase na trajetória do clube após seu quadragésimo aniversário. O uniforme titular ganharia uma faixa azul na altura do peito e o reserva teria o calção da mesma cor.

Novo escudo anunciado pela diretoria do Brasília.

Novo escudo anunciado pela diretoria do Brasília.

Assim que as imagens da nova identidade do Brasília foram divulgadas deu-se início a uma enxurrada de críticas à mudança por parte de seus torcedores (e de zoações dos rivais gamenses), algumas com xingamentos direcionados principalmente a Luiz Felipe Belmonte, acionista majoritário do clube, que acabou sendo apontado pelos torcedores como o principal responsável pela transformação pela qual o time passou.

Algumas críticas feitas foram respondidas pelo mandatário de uma forma um tanto deselegante, lembrando muito o estilo de cartolas como Eurico Miranda ou, para se ter um exemplo mais próximo, de Luiz Estêvão – que curiosamente já foi cliente do advogado Belmonte.

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Respostas como essa passam a mensagem de que o clube ganhou um tom personalista e que os torcedores, que só teriam a oferecer a paixão pelo futebol e os trocados para comprar camisetas e outros produtos do clube, teriam que aceitar acriticamente tudo que a diretoria fizesse. Todos nós sabemos que as coisas não funcionam assim: se até no comércio o prestador de serviço tem que saber se moldar aos desejos de sua clientela imagine no futebol em que há muito mais fatores intangíveis envolvidos do que questões materiais e exatas. É importantíssimo que o torcedor se sinta parte integrante da agremiação para que se crie vínculos.

Peguemos como exemplo as cores do time. Aqueles que se simpatizaram com o Brasília a ponto de se prepararem para o jogo da Sul-Americana com tanta antecedência (preparando faixas, bandeiras, camisas, instrumentos, etc.) criaram vínculos com todos os símbolos que representam o clube atualmente (o escudo, as cores, a história, o mascote, etc.), mas mudanças radicais além de afastar os torcedores que se tem criaria resistência em possíveis novos torcedores que iriam temer torcer para um time tão volúvel.

Voltemos agora à questão do escudo que contamos no início do texto. O choque de uma mudança obviamente seria maior se se tratasse de um símbolo tradicional e/ou centenário, mas no caso do Brasília o problema é exatamente o oposto: é o NONO escudo adotado por uma agremiação que tem apenas 40 anos, sendo que é a QUINTA alteração em um intervalo de seis anos – é justamente o problema apontado pelo vendedor de Caldas Novas. Para a manutenção do atual escudo, considerado por muitos o mais bonito de sua trajetória, pesam a favor que foi utilizando ele que o clube teve sua arrancada que culminou no título da Copa Verde, ocasião que muita gente compareceu ao Mané Garrincha e se simpatizou com aquele clube de vermelho, que a partir dali ganhou grande visibilidade no Brasil e no mundo.

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Com relação ao mascote, o que acabou despercebido a quem fez a análise citada pela nota oficial foi a falta de originalidade, pois considerando apenas o futebol do DF já há dois clubes que adotam a águia – Santa Maria e Paracatu, ambos na elite – além de dois clubes inativos que também a tinham como símbolo – ARUC e Taguatinga, sendo que o segundo rivalizou por muitos anos com o Colorado até se licenciar em 1999.

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Ceilandense em ação no Candangão 2015.

Quanto ao uniforme e a adição do azul a polêmica talvez tenha sido a maior. Fontes ligadas ao clube informaram que a intenção era alterar as cores do clube gradativamente para minimizar o choque de uma mudança tão drástica, que inclusive teriam motivações políticas. A principal crítica aos uniformes apresentados foi a de que estes teriam ficados, somados ao escudo, “americanos” demais, pois os mesmos teriam feito o clube parecer um time que disputaria a MLS (a liga estadunidense de futebol). Fato é que os mesmos ficaram semelhantes aos utilizados pelo Ceilandense no último Candangão, no qual o time da Guariroba acabou sendo rebaixado.

Independente de qualquer possível motivação foi anunciado que o azul teria sido escolhido para simbolizar o céu de Brasília. Somado a isso o presidente Luiz Felipe Belmonte, baseado no argumento dos torcedores que a águia não teria nada a ver com Brasília, diferente do avião, mencionou em comentário no Facebook que o vermelho também não teria nada a ver (mais uma pista da tendência de se retirar a cor encarnada do uniforme). Ora, o vermelho é a cor da terra onde foi construída a cidade, coisa que é muito citada pelos visitantes, principalmente os que vêm de cidades litorâneas, como uma característica marcante da capital do país.

E convenhamos, um time azul e branco com uma águia no escudo? Aí sim viraria definitivamente o Taguatinga.

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Taguatinga Esporte Clube: mesmo licenciado ainda é o quarto maior vencedor do Candangão (81, 89, 91, 92 e 93).

Mudanças radicais encontram paralelo na história do Brasilia – há quinze anos o vermelho e branco deu lugar ao azul e amarelo quando a agremiação tentou virar clube empresa, mas em vez de simbolizar vitórias a mudança simbolizou a derrocada do clube e uma década de ostracismo no cenário do futebol. Talvez este episódio também tenha sido lembrado pelos dirigentes na hora de cogitar as trocas dos símbolos atuais e com isso o vermelho permaneceu – por ora.

Após dois dias de seguidas críticas a diretoria acabou por recuar na mudança, primeiro recolocando o escudo colorado em sua página no Facebook e depois soltando uma nota oficial anunciando a decisão, na qual também informou que o vermelho e branco estaria de volta nos uniformes utilizados pelos jogadores na terça. A atitude foi um ponto positivo que mostrou que os gestores do clube sabem reconhecer seus erros a ponto de voltar atrás em vez de insistir no erro para não dar o braço a torcer, e que admitem considerar a opinião dos torcedores não só do clube mas também dos apaixonados pelo futebol que se solidarizaram com a causa da torcida colorada.

Agora é hora de aqueles que lutaram contra as mudanças nas redes sociais mostrarem sua força também nas arquibancadas na hora deste momento histórico. Porém, em caso de baixa adesão a mudança do local do jogo para o estádio Bezerrão acabará depondo a favor de quem nao compareceu por conta da dificuldade de deslocamento para muitos que acabaram desempolgando de não poderem ir para o Mané Garrincha. Fica o trauma por conta dos acontecimentos e a nova tarefa por parte do Brasília de recuperar a imagem arranhada que acabou ficando após tanto alvoroço.

Uma das inúmeras imagens de protesto publicadas por torcedores do Brasília.

Uma das inúmeras imagens de protesto publicadas por torcedores do Brasília.

  1. Roberto Marques

    Prezado redator da matéria: em que pese sua brilhante narrativa, quero entrar em discordância quando vc fala em mudança de oito vezes do escudo/ou logo.Os 3 primeiros citados por vc quando o clube ainda se chamava Brasilia Esporte Clube, são nada mais do que uma variação do mesmo; a mudança efetiva ocorreu da mudança de associação para clube empresa, e não tentativa como vc citou, mudança esta realizada por decisão assemblear legalmente constituída para tal fim e votada de forma unânime dos presentes diretores do antigo BEC; portanto nesse contexto houve UMA mudança…a partir daí foi realizada uma segunda mudança efetuada por uma diretoria por minha pessoa capitaneada, e entregue nas mãos de um catedrático, ex marketing da coca cola, portanto MUDANÇA DOIS….depois dessa mudança, que retratou o sinal do Plano Piloto de Brasilia, houve uma adequação de um escudo para o outro constituindo-se não em mudança mas apenas estilização… após isso veio uma mudança protagonizada por um investidor dono de uma das maiores agencias de publicidade do DF, quiçá do Brasilia, a Fields Comunicação, portanto MUDANÇA 3…finalizando em 2013 foi feita a mudança para o escudo atual que mesmo representando uma estilização do pássaro/ para avião como entende a maioria, que veio carregada de conquistas dentro de campo…portanto MUDANÇA 4…caríssimo redator, o entendimento real é que houve 4 mudanças, que mesmo acho muito, mas é fruto da busca de uma identidade que atenda os anseios da maioria torcedores e simpatizantes do agora e desde 1998, BRASILIA FUTEBOL CLUBE…ATENCIOSAMENTE; Roberto Marques dos Santos….tenha uma boníssima noite.

  2. Felipe Belmonte

    Senhor redator,
    Preciso entender melhor seu senso de proporcionalidade, pois a Diretoria foi xingada e ofendida grosseiramente, dentro de um contexto de agressões outras, e o senhor acha que eu é que sou “deselegante” apenas porque convidei alguém a participar dos custos do Clube. O que se dizer então dos termos grosseiros usados por pessoas que se dizem (sequer se sabem se realmente o são) integrantes da torcida. Críticas educadas e fundamentadas são muito bem aceitas e assim o foram consideradas. Além disso, se muitos dos que reclamam comparecessem para apoiar o time já contribuiria muito para viabilizar as finanças do clube, daí porque fica a dúvida se realmente são torcedores ou apenas agressores. Outrossim, esclareço que não tenho afinidade alguma com Eurico Miranda e deixei de ser advogado de empresário em Brasília em 1993, até porque não advogo para quem entra na política. A propósito, renda líquida do jogo com o Goiás: R$ 3.840,00. Chiar e criticar é fácil, apoiar é que quero vem quem faz.

  3. Dias

    Parabéns, Clébio. Entendo o direito que qualquer ser humano tem de se sentir ofendido, só espero que com a cabeça fria, haja grandeza para contornar tudo isso e honrar as tradições do clube, prezando pelo seu patrimônio maior: a torcida. Principalmente quando esta ainda está se formando, ou se resgatando após anos sombrios como é o caso do Brasília. Meu pai conhece a história dessa cidade e desse futebol, sempre me fala que as torcidas de Brasília, Taguatinga e Gama costumavam ser boas nos estádios do DF. Vamos ouvir o público e respeitar a tradição, a despeito de preferências pessoas, politicagens e coisas do tipo, das quais o futebol do DF vem provando o gosto amargo a anos. Abraços, e se for assim, desejo sucesso ao Brasília, ao COLORADO que eu vi levantar a taça da Copa Verde, que eu vi chegar na final do Candangão com garra e raça!

  4. Gilmar

    Boa noite senhores!
    Não sou torcedor do Brasília, mas concordo com Sr. Felipe Belmonte em relação às ofensas deste suposto torcedor. Ao invés de xingamentos deveria opinar e sugerir. Guardemos nossos xingamentos para direcionar aos árbitros quando estes nos prejudicarem se assim acontecer. Concordo também com o redator em relação à mudanças de escudo e adição de outras cores. Deve-se respeitar as tradições de um clube. Já presenciei muitos embates do colorado com o meu Leão da Serra e era muito bonito ver aquela camisa vermelha.
    Parabéns sr. Felipe por ter recuado na sua decisão.
    o Brasília Futebol Clube é maior que tudo isso.

  5. Antonio Gomes de Moraes

    Sr Belmonte,
    O BFC vai disputar a copinha em Janeiro. Certo ? Fique ligado. O BFC
    Esta sem identidade . So jogadores de “empresarios”. E Agueles q ‘vem desde o “infantil ?

    • Roberto Marques

      Sr Antônio, como diretor do BFC, lamento dizer que o sr está mal informado; e ainda que fosse todos os atletas de empresários, o mundo globalizado atual não permite que os atletas modernos tracem suas carreiras,sem alguém que os represente civilmente enquanto eles façam o que sabem fazer de fato: jogar bola.

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